domingo, 7 de dezembro de 2014

Bebo, logo existo: Guia de um filósofo para o vinho



Numa palavra: inusitado! Assim pode-se resumir esta obra do filósofo inglês Roger Scruton.

Numa linguagem ácida, Scruton traz uma abordagem do vinho que foge do lugar-comum. Em "Bebo, logo existo: Guia de um filósofo para o vinho" cujo título original "I Drink Therefore I Am: A Philosopher's Guide to Wine" foi traduzido e  - coisa rara - respeitado na edição brasileira, o autor traz desde sua relação pessoal e histórica com o vinho até reflexões filosóficas profundas, fazendo com que um tema permeie o outro. 

Embora alguns trechos iniciais possam assustar o leitor, como, por exemplo "Sem a ajuda da bebida vemos uns aos outros tais como somos, e nenhuma sociedade humana pode ser construída sobre uma base tão frágil.", não há com o que se preocupar, pois a lucidez predomina, ainda que com uma contundência incomum. Se você é da turma do "politicamente correto", esqueça este livro!

Trechos relativos a temas mais contemporâneos também estão presentes: "É inútil tentar descrever o sabor do Lafite. Seu efeito no nariz, na língua e no palato não pode ser expresso em palavras, e tampouco devemos considerar com outro sentimento além do desprezo o novo hábito, demonstrado pelos críticos americanos como Robert Parker, de atribuir pontos a cada garrafa como se fosse uma corrida a vencer. Atribuir pontos a um Clarete é o mesmo que se atribuir pontos a sinfonias - como se a sétima de Beethoven, a sexta de Tchaikovsky, a número 39 de Mozart e a oitava de Bruckner estivessem todas pairando entre o 90 e o 95."

De modo geral, tem-se uma leitura agradável. Só achei um tanto enfadonho um capítulo dedicado à ontologia. Provavelmente, isso se deve ao meu analfabetismo filosófico.

Algo que parece incomodar o autor consiste na posição muçulmana quanto à proibição do álcool. Ele aborda o tema em diferentes capítulos, sempre defendendo que essa interpretação do Alcorão estaria incorreta.

O livro possui um apêndice, no mínimo, curioso. Filósofos como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Descartes, entre muitos outros, recebem uma análise - uma mais aprofundadas do que outras - de seus pensamentos e qual seria o vinho adequado para "harmonizar" com a leitura dos textos de cada um. E Scruton deixa suas opiniões bem claras: Enquanto sugere Vino Nobile de Montepulciano para Tomás de Aquino, "água de alcatrão" é a pedida para acompanhar Berkeley.

Vale a leitura! A editora, no Brasil, é a Octavo. 


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